Cansada. O peso dos anos tomou conta.
Doença? Que nada.
Deve ser mesmo um desequilíbrio emocional. Mais um, diria o parceiro eterno.
Mulheres... essas mulheres são complicadas.
Precisou passar 40 dias cansando, ofegando ao subir escadas, com um muco inexplicável, a cada dia mais espesso, quando tossia.
Olhava a nova esteira elétrica com desdém. Um bem de alta tecnologia deixado de lado, comprado em dez dolorosas prestações. Agora só pensava no ofegante respirar.
Dia após dia, o mesmo pensamento:
Precisava ir ao hospital. Mas deixava sempre para o outro dia.
Tinha um plano de saúde. E muitos afazeres. Um plano caro. Sem uso. Um esperdício.
Os meninos e meninas, os filhos e filhas dessa equipe de trabalhadores dependiam da velha cansada.
Nem velha era. Nem tão velha era.
O cansaço parecia carregar mais trinta anos que a idade real.
O trabalho de domingo era só uma desculpa.
Mesmo com um dia de folga, não descansava.
Tinha mais tarefas a fazer. Uma fila me esperava.
Asma? Eu? _ Pensou ela.
Uma asma de estimação resolveu chegar e ficar.
E crescer. CRESCER. Até sufocar.
A tosse ecoava no mundo inteiro.
O pulmão, a garganta, o corpo todo doía.
Sentia que todas as células ardiam.
Teve que pedir socorro a si mesma.
Foi direto do trabalho ao hospital, quase sem voz.
De farda industrial ainda. Sozinha.
Tinha vergonha de ser frágil. Tinha vergonha de ser sozinha. Não teve jeito. Foi.
Foram vinte minutos de espera. Vinte minutos para a triagem.
A enfermeira colou uma bolinha verde na pulseira.
Ela sabia o significado.
"Essa praga deve estar com virose. Vai mofar na sala de espera." Leu os pensamentos da enfermeira.
Sem pressão alta, sem diabetes. Sem febre. Sem sangramento. Nem ao menos decapitada.
Vai esperar.
Esperou.
Esperou.
Esperou
Três horas depois, chamaram o seu nome.
Uma médica com cara de boneca atendeu.
Parece que tem 16 anos, pensou, com certeza era estudante. Nem conseguia pensar, porque ainda estava sem fôlego.
Ela parecia ter pressa de expulsar da minúscula sala.
Tinha cliente esperando_ imaginou.
Mais meia hora, e foi finalmente atendida.
— Vamos fazer exames do pulmão e de sangue. Vai fazer nebulização e tomar medicação. Se tudo ficar bem, te libero em seis ou sete horas da noite.
Dessa vez, a paciente impaciente não reclamou.
Precisava parar de sentir dor. Precisava conseguir respirar.
Usou sete horas sem dor, com deleite. Quase férias. Viajou nos pensamentos, brincou no celular, fez mídia.
Não tirou foto. — para não se vitimizar.
Estava melhor.
Se sentiu segura nas mãos do corpo clínico do Hospital.
Foi muito bem tratada lá. Como sempre.
A doutora receitou uns quilos de remédios.
"Bronquite asmática severa", comunicou.
Estava com asma há 40 dias, achando que era "velhice aguda".
Mas só é velho quem aceita a velhice — quando se incapacita.
E ela nunca se sentiu assim.
— Vá ao pneumologista com urgência. Ainda essa semana — disse a doutora.
Foi direto à farmácia.
Domingo à noite. Com fome. Dirigindo. Ainda tonta da medicação.
McDonald's foi a única opção.
Tinha o comando do cérebro, o comando de si própria.
Era assim que a mulher da bolinha verde fazia.
Era só e gosta muito de ficar só. Sair só.
Tomar uma cerveja sem ninguém me incomodar.
Pensar muito. Escrever por prazer.
Ótima companhia para si mesma.
Simples assim.
Ficou um veredito cinza, com a bolinha verde ainda na pulseira.
A esteira espera.
Por enquanto, é obedecer à determinação médica: repouso, isolamento.
Detesta a inércia