Não caminha — desliza,
como quem nasceu sabendo
o caminho das marés.
Ama as águas com devoção antiga,
como se o corpo recordasse
o ventre do mundo.
No mar, se desfaz
em silêncio e sal,
e retorna inteira,
renascida.
A lagoa a escuta.
O rio a reconhece.
As águas se abrem
para quem sabe ser parte,
não dona.
Em cada nascente,
vê um recomeço.
Em cada onda,
um ensinamento:
ceder não é perder,
é confiar no fluxo.
Tem o pulso das marés,
o ritmo da chuva que chega
sem pedir licença.
É profunda,
mas nunca sombria.
Clara,
mas nunca rasa.
Onde passa, molha.
Onde toca, amacia.
Não seca,
não endurece.
Carrega horizontes nos olhos,
e um oceano no peito.