Amor e dor..

Regina Michelon
Poesia: Doces palavras criadas ao seu encanto. Enquanto Canto.
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Textos

Como Ícaro

 

Pensava em ser livre — e, então, reconheceu em si o sentimento de Ícaro.

 

Sentia vontade de voar. Sonhava voando com frequência. E, nos sonhos, elevava-se do chão com o simples impulso do corpo — para cima, para baixo, para os lados — sem esforço algum, sem engenho humano.

 

Voava como um pássaro, sem bater asas. Sentia a massa gasosa ao redor, e podia enxergá-la, como talvez vejam os pássaros planadores.

 

Essa massa lhe parecia levemente rosada, em contraste com os verdes das matas e os azuis do céu.

 

Queria viver o presente — sem pressa, sem futuro, sem tempo que o aprisionasse. Queria um tempo só seu.

 

Subiu alto, em direção ao infinito, buscando o céu mais azul.

 

Não era sonho. Podia realmente voar — e voava. Sentia a brisa no rosto, o ar tornando-se cada vez mais rarefeito.

 

A temperatura caía a cada dezena de metros. Mas não havia frio no corpo. Apenas prazer. E quanto mais frio, mais forte se tornava o sentimento de Ícaro em seu peito.

 

Por horas seguiu adiante. Não havia motivo para olhar para trás.

 

Por um instante, quis olhar para baixo, admirar a paisagem. Mas achou melhor não.

O desejo de subir era mais forte. Mesmo que quisesse, não olhava. Apenas subia — pelo simples prazer de seguir em frente, de fazer o que antes era impossível.

 

Desafiar o desconhecido. Conhecer o novo que surgia a cada instante.

 

Parou. Por que parou? Perguntou-se — e não tinha resposta.

 

Mas não precisava responder. Era livre. Totalmente livre.

 

Ainda sem entender, observou enfim a vida lá embaixo — lenta, em miniatura, quase insignificante.

 

Sentia-se feliz. O passado estava distante, invisível, muito abaixo. Talvez nem existisse mais.

 

Tentava compreender o sentido de observar de longe, sem pertencer às tramas da vida, sem coexistir naquela dimensão. Mas não conseguia.

 

Estava perto do céu. E, como Ícaro, sentia-se uma estrela.

 

Sempre fora uma estrela. Só não se dava conta do poder de admiração que despertava.

 

Afinal, também era amado. E belo — como uma manhã de primavera

 

Regina Michelon

A Regina Michelon
Enviado por A Regina Michelon em 09/04/2025
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