A Mulher Solitária
Uma mulher solitária, na encruzilhada da vida.
Domingo à noite.
Ela encontra forças para recomeçar e vai dormir cedo, mesmo sem sono. Imagina que, ao acordar, irá trabalhar, rever colegas e amigos — talvez isso a ajude a esquecer, ao menos um pouco, a solidão.
Segunda-feira é um dia trabalhoso. Quanto mais difíceis as tarefas, melhor. Ela gosta de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Só uma mulher competente consegue isso. O desafio salva o seu dia, prova sua força — embora sua fortaleza seja apenas um verniz sobre os próprios medos.
Os dias seguem, sem grandes novidades. Uma alegria aqui, outra ali. E muitas decepções, como a vida costuma oferecer.
A vontade de crescer ainda pulsa. Mas a mulher solitária, por si só, não tem muitas oportunidades.
Luta. Dá murro em ponta de faca.
A mulher não espera que abram portas — ela arromba.
Mesmo assim, as oportunidades lhe são tomadas. Ainda assim, ela não desiste.
A idade já pesa. Ela não tem mais vinte anos e sente que precisa renovar o corpo e a alma.
Não desistirá.
Muda os seios, o sorriso. A academia de casa cuida do resto.
Fica bonita, firme, sensual — mas ela não enxerga isso. Só os outros veem.
Sexta-feira. O dia mais difícil para uma mulher solitária.
O sol está radiante, mas o calor é ameno — é inverno no Nordeste.
Ela pensa nos dois dias quase vazios que terá pela frente.
E se chover?
E se a estrada para o sítio estiver ruim? Vale a pena correr o risco sozinha no meio da chuva?
Ela pensa, repensa.
Estremece.
Seria medo da estrada alagada? Ou o receio de desejar que não chova no sertão?
E o jardim? As flores estão tão lindas...
Sente-se egoísta por pensar só em si, no próprio prazer.
A ida ao sítio, todo fim de semana, tem lhe feito bem. Lá, sente-se livre.
Admira as árvores da mata e as flores que ela mesma plantou.
Refaz o pensamento e prefere que chova. A chuva permitirá continuar povoando o jardim de cores e vida.
Fará mais bem do que mal.
Falta apenas o seu amor — que está longe.
Apaixonou-se pelas graxas. Não há flor melhor para aliviar sua solidão.
Como ela, a flor é delicada, vive apenas um único dia.
Mas a planta é forte. Suporta frio, calor, vento.
Não desiste de lançar flores, dia após dia. Cumpre seu papel: florir o jardim.
A graxa é guerreira — como a mulher solitária.
A graxa é humilde, mesmo sendo um hibisco.
A mulher sorri a cada flor que desabrocha.
Sabe que a flor é mais feliz sendo chamada pelo nome simples que lhe deram: graxa.
Sexta-feira, de fato, é o dia mais doloroso.
O expediente termina mais cedo. Mas ela não tem pressa.
Às vezes, até perde a hora. Quase sempre, na verdade.
Fica mais um pouco, adianta tarefas da próxima semana. Tenta reduzir a solidão que sabe que virá.
Por que sair cedo? Não há ninguém esperando.
Nenhum amor para admirar o pôr do sol ao lado.
Não há amado para encontrá-la.
Seu amor está longe. Foi embora, para outro estado, mais ao norte, e não quer mais voltar.
Não há mais amor.
Seu coração apenas cicatriza as feridas.
Ela chega em casa com o céu ainda tingido pelos últimos raios avermelhados do sol.
Está cansada — não de corpo ou de mente, pois o trabalho é bom e criativo.
O cansaço vem da certeza da noite vazia que se aproxima.
Não há vontade de preparar refeição. Nem mesmo um lanche.
Um vinho gelado e encorpado a espera.
O vinho traz lágrimas e saudade.
Sem fome, sem ânimo, joga o corpo no sofá.
Na mão, o copo. Na TV, 140 canais. Mas nenhum prende sua atenção.
Troca apenas por trocar, até deixar no canal de futebol.
Nem gosta do esporte. Não vê a imagem — sente apenas a solidão.
Sente vontade de sair. Mas para quê?
Sozinha, se sente rejeitada.
Não sabe mais seduzir.
Quase nunca bebe, não fuma, desaprendeu a dançar.
Não há o que fazer na rua.
Ouve conversas do lado de fora.
Não distingue vozes.
Não entende o que dizem.
Parece outro idioma. É outro idioma — está num complexo turístico.
Mas mesmo que não estivesse, ainda assim não entenderia.
Sente-se estrangeira em todos os lugares.
Pensa no amado, que foi embora para o norte.
Para o norte do lindo Nordeste.
Parece-lhe tão distante, essa redundância.
Chora.
Chora de alegria ao lembrar o telefonema longo que ele lhe fez.
Talvez haja razão para um fim de semana menos angustiado.
Talvez ele volte.
Talvez um amor eterno ainda seja possível.
Mas, não.
Não houve telefonema.
Não há amado.
Ela sonhou.
A mulher solitária sonhou com um amor inexistente.
Agora, espera por uma ligação cheia de amor —
não para receber,
mas para dar.
Ela espera em vão.
A mulher solitária continua só.
A Regina Michelon
Enviado por A Regina Michelon em 09/04/2025