Adah — Promessa azul
Ela era primavera em forma de gente.
Vivia entre flores coloridas.
Era um retrato da liberdade.
Com os cabelos ao vento e o rosto voltado para o céu,
Adah caminhava entre lírios como quem conhece o segredo das estações.
Ninguém lhe ensinou a renunciar.
Ninguém lhe ensinou a desistir.
Ela aprendeu sozinha, escutando as ausências,
Aprendendo a linguagem das entrelinhas do destino.
Era o destino do Pai.
Filha de Jefté, filha de um voto.
mas também filha da fé.
Não da fé que impõe ou exige,
Mas da que se curva, da que aceita,
Da que cumpre, mesmo que sangre.
Era promessa de sangue.
Quando o pai voltou,
Com o pó da guerra nos ombros e a promessa na boca,
Ela o recebeu com a alegria dos inocentes.
Pois era inocente.
E ao ouvir o preço, não hesitou.
Seu silêncio não era resignação,
Era decisão.
Era força velada sob véus de ternura.
“Cumpre o que prometeste ao Senhor”
E, com isso, Adah se tornou mais do que filha:
Tornou-se voto vivo e sacrifício consciente.
Estrela de palavra honrada.
Ela não morreu naquele altar. Ascendeu.
Porque há mortes que não apagam, viram chamas de exemplo.
E desde então, onde quer que alguém cumpra o que diz,
onde a honra pesa mais que a própria sobrevivência,
Adah floresce.
Em véus de céu.
Todo o firmamento se tornou véu.
Com olhos de eternidade.
Ela é a primeira ponta da estrela.
Azul como o céu da fidelidade.
Silenciosa como o sim que não precisa eco.
Adah — aquela que dançou com o destino
e não tropeçou.
A filha que cumpriu a promessa do pai, ao PAI.
Regina Michelon