Um dia no hospital
Um dia no hospital
Cansada, o peso dos anos tomaram conta. Doença? Que nada. Deve ser mesmo um desequilíbrio emocional. Mais um. Diria o parceiro eterno. Mulheres... Essas mulheres são complicadas.
Precisei passar 40 dias, cansando, ofegando ao subir escadas, com um muco inexplicado cada dia mais expesso, quando tossia.
Olhava a nova esteira elétrica com desdém. Um bem de alta tecnologia deixada de lado, comprado em 10 dolorosas prestações. Só pensava no ofegante respirar.
Dia após dia, vem o mesmo pensamento. Preciso ir no hospital.
Tinha um plano de saúde e muitos afazeres. Um caro plano de saúde. Sem uso.
Os meninos e meninas e os filhos e filhas dessa equipe de trabalhadores dependiam dessa velha cansada. Nem velha era. Nem tão velha era. O cansaço lhe parecia ter mais 30 anos acima da idade.
O trabalho de domingo era só a desculpa. Mesmo com um dia de folga eu não descansava. Tinha mais tarefas a fazer. Uma fila esperando.
Asma eu? Uma Asma de estimação resolveu chegar e ficar.
E Crescer, CRESCER, até sufocar. a tosse ecoou no mundo inteiro. o Pulmão, a garganta, o corpo todo dolorido. Sentia que todas as células doíam.
Tive mesmo que pedir socorro. Foi ao hospital direto do trabalho, quase sem voz. Com farda industrial ainda. Sozinha. Tinha vergonha de ser frágil. Tinha vergonha de ser sozinha.
Foram 20 minutos de espera. 20 minutos para avaliação. A enfermeira colou uma bolinha verde na pusseira.
Eu sabia o significado "essa praga deve estar com virose. vai mofar na sala de espera" . Li os pensamentos da enfermeira.
Sem pressão alta, sem diabete. Sem febre. Sem sangramento. Nem ao menos decapitada. Vai esperar.
Esperei. esperei e esperei. Três horas depois chamaram meu nome.
Uma médica com cara de boneca atendeu. Parece que tem16 anos, comentei, com meus pensamentos pois estava sem fôlego.
Tinha pressa de deixar o hospital.
A impaciente, com pressa. Tinha cliente esperando, pensei.
Mais meia hora foi finalmente atendida.
- Faremos exames em seu pulmão e de sangue. Vai fazer nebulização e tomar medicação, se tudo ficar bem, te libero em 6 ou 7 horas.
Uma paciente impaciente que transforma a emergência em tortura, não fez dessa vez. Precisava parar de sentir dor, e, conseguir respirar.
Usei sete horas sem dor, com deleite. Viajei nos pensamentos, brinquei no celular. Fiz mídia. Não tirei foto de mim mesma para não vitimizar. Estava melhor.
Estava segura nas mãos do corpo clínico do Hospital Aeroporto. Foi muito bem tratada lá. Como sempre.
A doutora receitou uns quilos de remédios. "Bronquite asmática severa". Comunicou.
Estava com asma há 40 dias, achando que era velhice aguda. Só é velho quem aceita a velhice. Quando se incapacita. Eu nunca me senti assim.
- Vá ao pneumologista urgente. Ainda essa semana. Disse a doutora.
Fui direto para farmácia. domingo a noite. Com fome. MC'Donald foi a única opção.
Tinha o comando do cérebro, o comando de si própria, era assim que mulher da bolinha verde faz.
Gosta muito de ficar só, sair só, tomar uma cerveja sem ninguém me incomodar e pensar muito. Uma ótima companhia pra si mesmo. Simples assim.
Ficou um veredito cinza, com bolinha verde na pulseira no pulso.
A esteira me espera. Por enquanto é obedecer a determinação médica e se isolar ainda, mais.
Edeio a inércia.